SPOILER ALERT: Caso não conheçam a história dos Queen, considerem ver o filme primeiro porque este artigo pode conter spoilers.

Faz cinco anos que li, pela primeira vez, a notícia que dava conta que um filme sobre os Queen ia finalmente ver a luz do dia e lembro-me, perfeitamente, de ter ficado num misto de ceticismo e êxtase.

O êxtase é muito fácil de explicar. Já o ceticismo deveu-se a uma de duas possibilidades: ou ia ser um documentário enfadonho feito à medida dos críticos de cinema que confundem a sétima arte com uma arte elitista e conceptual, sacrificando a narrativa e a história em detrimento de uma obra cinematográfica de autor, ou iriam pegar no lado mais “boémio” de Freddie, agarrando-se à homossexualidade e excentricidade própria da década de 80, deixando para segundo plano a sua obra e a sua ascensão com os Queen.

Para piorar as coisas, o nome que surgia para representar Freddie era Sacha Baron Cohen. Nada contra Sacha mas para se ser Freddie não basta ser parecido e, quer queiramos quer não, o registo humorístico que lhe conhecemos não se desliga facilmente, correndo o risco de o ator se sobrepor ao papel que desempenha e, no fim, resultar numa caricatura confrangedora de si próprio. Tudo isto veio confirmar-se com o afastamento de Sacha Baron Cohen do projeto por graves divergências com Brian May.

Passaram-se alguns anos e o filme foi sendo adiado por diversas vezes.

Até que, na semana passada, estreou (finalmente) com Rami Malek. E que interpretação! Malek parece ter sido “possuído” pelo espírito de Mercury em todos os seus movimentos e expressões faciais. O registo nunca parece demasiado mecânico ou encenado e para quem (como eu) viu horas e horas de documentários e vídeos sobre os Queen, todas as cenas parecem-nos familiares… existindo constantemente uma sensação de dejá vu

O filme começa e acaba com aquela que é para muitos – e para mim – a melhor performance ao vivo de sempre de uma banda: o Live Aid de 13 de julho de 1985. A reconstituição desta obra prima com cerca de 20 minutos é fabulosa e todos os movimentos em palco, planos de filmagem e a reconstrução CGI do mítico estádio de Wembley com toda a sua envolvência e ambiente, mereciam por si só um Óscar. Está tudo assustadoramente realista, inclusive um dos momentos mais marcantes e icónicos como a dança provocadora de Freddie com o cameraman ao som de Hammer to Fall.

 

 

Após a referência ao Live Aid, o filme recua até à entrada de Freddie Mercury nos Smile substituindo o baixista e vocalista Tim Staffell que tinha trocado os Smile pelos Humpy Bong e, a partir daí, o filme cobre a ascensão da banda em momentos chave como a digressão pelos Estados Unidos, a relação com Mary Austin e a sua homossexualidade, evitando uma exposição desnecessariamente explícita.

É verdade que o filme deixa de fora alguns momentos importantes mas a história dos Queen é tão vasta que daria para, pelo menos, uma trilogia…

Para além do Live Aid, o maior destaque vai para a reconstituição da composição daquela que é considerada por muitos, a melhor música de todos os tempos: Bohemian Rhapsody. A sequência conseguiu levar o público presente na estreia – incluindo eu – às lágrimas de tanto rir. A construção deste segmento recorre a áudio verdadeiro dos ensaios e tem o mérito de explorar a relação entre os diferentes membros da banda, envolvendo-nos de forma imersiva e particularmente única no processo criativo de uma obra prima da música.

 

 

O filme destaca-se pela verdadeira montanha russa de estados de espírito em que nos conduz, do riso às lágrimas.

Se dúvidas houvessem, posso-vos dizer que acabei o filme com um nó na garganta difícil de explicar. Mas a questão é que não fui apenas eu… À saída, havia famílias inteiras, gerações completamente distintas de pessoas que viveram essa época de ouro e que levaram os filhos.

Ninguém saiu indiferente ao filme e se há um mérito a apontar ao filme é exatamente esse, o facto de ser um filme para todos, que conta uma história sem amarras cronológicas ou temporais.

Bohemian Rhapsody é, acima de tudo, uma homenagem e a celebração da vida, do carisma e da obra de Freddie Mercury. E esse é o ponto de partida para uma história sobre a ascensão de um génio e de uma banda incrível. Nada mais do que isso.

Se a vossa intenção é irem munidos de um bloco de folhas para o cinema em busca de erros e imprecisões históricas durante toda a narrativa, desistam porque vão ter muito que escrever. O filme está repleto delas, sendo certo que o filme apresenta-se como uma história (e, por isso, ficção) e não um documentário. Se são fãs e o rigor é um fator preponderante para vocês, poupem já o dinheiro do bilhete e vejam antes um grande documentário chamado Days of our lives.

 

 

Mas se quiserem apenas ir ver uma história bem contada, que nos prende ao lado mais pessoal de Freddie, da sua relação com a banda e sobretudo consigo próprio, numa luta permanente contra a solidão, cuja banda sonora é a obra dos Queen polvilhada com verdadeiros tesouros como o áudio real dos ensaios da banda e os concertos ao vivo, então, é um filme obrigatório. Bohemian Rhapsody faz justiça à história da banda… não é um filme para críticos de música e de cinema… é um filme para os fãs.

É um filme com imprecisões factuais mas fidedigno e absolutamente arrebatador no que realmente interessa… a música e o legado de Freddie Mercury e dos Queen. 

BOHEMIAN RHAPSODY – Dia Mundial do Cinema

Comentários


Post navigation


Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *