Na última década muitos vaticinaram o fim da rádio com a proliferação dos meios digitais mas, na verdade, foi precisamente a rádio o meio que melhor se adaptou a esta nova realidade.

Uma das grandes virtudes que a Rádio conquistou ao longo do tempo foi a intimidade que criou com os ouvintes. A voz é um instrumento poderoso na ausência de imagem e essa relação entre nós e a rádio manteve-se inalterada ao longo dos tempos. Acordamos com a rádio, vamos para o trabalho a ouvir os programas da manhã e muitas vezes deitamo-nos a ouvir rubricas míticas como o Oceano Pacífico da RFM. É algo que nos acompanha e faz parte das nossas vidas.

Paralelamente, esses conteúdos criados no contexto da rádio ao longo do dia, vivem muito para além dela através dos Podcasts, ou seja, o que não ouvirmos num determinado momento, podemos recuperá-lo mais tarde, em contextos completamente diferentes e em meios absolutamente distintos como o telemóvel ou o tablet. Neste sentido, a rádio terá de evoluir para um formato on demand.

É interessante termos em conta que mais de 80 por cento das rádios portuguesas têm uma presença muito forte na Internet, o que é bastante expressivo se pensarmos que existem em Portugal cerca de 243 estações de rádio. Esta interação foi ainda mais potenciada pelas redes socias.

A qualquer momento podemos participar num fórum, reagir a uma rubrica, participar num passatempo ou até mesmo assistirmos a um direto via Facebook, Instagram ou Youtube. Esta descoberta da internet por parte da rádio foi, e continua a ser, determinante nesta revolução digital.

É possível que a grande mudança na próxima década seja na evolução no acesso aos conteúdos de rádio que irá levar ao fim dos emissores atuais de FM, sendo que já existem muitas estações a emitir exclusivamente na internet. Mas esta realidade ainda deverá levar algum tempo, dado que o FM e o online ainda coabitam e são uma extensão um do outro.

Mas este será também o maior desafio: evoluir sem perder a sua essência.

A partir da década de 90, com a informatização dos estúdios, surgiu a playlist, os programas de autor foram desaparecendo e o animador perdeu protagonismo.

As playlists significam menos intervenção dos animadores e mais música, o que, se por um lado pode parecer positivo, por outro é uma forma mais económica de fazer rádio pois significam menos recursos humanos, uma maior previsibilidade e uma maior monotonia.

Até os blocos noticiários reduziram bastante para uma síntese que não chega a um minuto. Tudo para privilegiar a música em detrimento da palavra.

Este tipo de emissão é perigoso pois leva à perda de interesse – sabemos a música que vai passar e todos nós temos os nossos gostos musicais e subscrevemos serviços como o Spotify – pelo que a tendência será recorremos cada vez menos à rádio para ouvir música.

E por falar no Spotify, este está prestes a lançar o Spotlight nos Estados Unidos, um serviço que entrará em concorrência direta com a rádio, com informação e podcasts com conteúdos de qualidade, de vários parceiros de renome, nas mais diversas áreas como a cultura, a política e o desporto. Para já ainda não estará disponível cá mas será apenas uma questão de tempo.

Quer isto dizer que a rádio está ameaçada?

Julgo que não, a rádio terá sempre o seu espaço. Mas terá de evoluir e reinventar-se constantemente nos próximos anos para não se tornar uma relíquia perdida nas ondas do Éter…

Dia Mundial da Rádio

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